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Entrevista com André Sturm


02/03/2015
12:43 PM
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Eurico Cruz
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Atualizado em 02/03/2015 2:55 pm

Cineasta, ativista cultural, sócio do Cine Belas Artes e diretor do Museu da Imagem e do Som (MIS). Estas são algumas das funções acumuladas pelo gaúcho André Sturm. Apesar das várias tarefas, ele é aparentemente calmo, e prefere pegar um ônibus fora do horário de pico para fazer a leitura dos dois livros que ‘consome’ por mês em vez de ir para casa de carro com o ar -condicionado ligado e chegar mais rápido.

Apesar de sua indicação inicial ao cargo de diretor executivo do MIS ter passado por algumas críticas de outros intelectuais da arte, Sturm conseguiu colocar o MIS como o museu mais visitado do Estado de São Paulo, com 603 mil visitantes do recorde de 3,7 milhões de pessoas que passaram por museus de todo o Estado. Uma das exposições que mais alavancou esse sucesso foi a do Castelo Rá-Tim-Bum, que trouxe a nostalgia dos programas infantis.

Com a carreira de cineasta em ritmo lento, Sturm possui um roteiro pronto para um novo filme de comédia que se passa em uma cidade do interior, “que pode ser qualquer interior do Brasil no qual tenha personagens emblemáticos, mas não tem internet, porque as pessoas precisam escrever cartas”. Ele prefere não dar muita ênfase ao projeto, pois para dar continuidade não saberia como faria para conciliar com o MIS e o Cine Belas Artes.

 

Folha Metropolitana­ – O MIS foi o museu mais procurado em 2014. O que foi feito para alcançar esse resultado?

André Sturm – A gente criou uma série de programas seculares como o cinematógrafo e a maratona infantil, que abrem espaço seja para novos artistas ou para o futuro público (que são as crianças) vir para o museu e tirar aquela coisa de que o museu não é para mim, que é uma coisa chata, como as pessoas estão acostumadas a deduzir.

De outro lado, começamos a procurar exposições que pudessem ser de grande interesse do público.

 

E qual foi o diferencial das exposições?

O que muitas pessoas não sabem é que o que elas viram aqui em São Paulo, elas só viram aqui em São Paulo. A exposição do Stanley Kubrick, por exemplo, todas as cenografias – o corredor do filme  O Iluminado, aquela sala do 2001, aquela cheia de inclinações e neon do Laranja Mecânica, foram criações nossas em parceria com o trabalho de um arquiteto, para efetivamente colocar as pessoas dentro dos filmes do Kubrick. E acho que a gente caminhou na direção certa.

 

Mas a exposição do Castelo Rá­Tim­Bum foi a de maior de sucesso?

Confesso que eu esperava um resultado muito grande, mas não esperava que fosse tanto. Foi literalmente uma imersão no Castelo. Nós demos aos fãs a chance de realizar uma fantasia ou simplesmente de entrar no castelo e conhecer seus principais aposentos.

 

E para este ano, qual exposição deverá chamar mais a atenção do público?

Esse ano a gente tem a exposição de fotografias da Jéssica Lange, que é uma atriz veterana com uma história curiosa. Ela se formou em fotografia, foi fazer um bico de atriz e acabou virando uma profissional super conhecida, extraordinária, e três anos atrás ela decidiu montar uma exposição das fotos feitas em paralelo. A exposição foi um sucesso em diversos países, então decidimos trazê-la.

 

Alguma exposição deve ter a mesma repercussão como a do Castelo Rá­Tim­Bum?

Em janeiro do ano que vem a gente vai ter a exposição do Tim Burton, essa vai ser impactante.

 

Hoje pode­-se considerar que há uma valorização da arte em São Paulo?

Com certeza, posso falar pelo MIS. Na exposição do Castelo Rá-Tim-Bum o museus abria às 9h e as pessoas começavam a chegar às 5 da manhã. Tinha pessoas dispostas a ficar cinco, seis horas numa fila e já vinham preparadas. Traziam baralho, era muito legal você chegar no museu e olhar, não era um clima de tensão, era um clima de alegria, estavam esperando para entrar no Castelo Rá-Tim-Bum.

 

Quais os programas de incetivo do MIS para novos artistas?

A gente tem dois tipos de apoio. Um deles é o trabalho de residência. Abrimos a convocatória para gravação de CDs, de artistas que trabalham com arte contemporânea para desenvolver seus trabalhos, como o de fotografia, chamado nova fotografia. A pessoa não precisa ser nova de idade, mas precisa ter um trabalho novo. E ao longo do ano temos uma convocatória para apresentação artística.

 

Como ativista cultural, o que você acha que falta em São Paulo?

Talvez, a área que a gente ainda tem uma defasagem é na leitura. Faltam livrarias, faltam bibliotecas. Quer dizer, até tem bibliotecas, mas elas não estão tão ativas. Você vê o sucesso que é a Biblioteca São Paulo, vive lotada.

 

Como cineasta, você concilia algum projeto?

Eu faço muitas coisas, mas a única delas que eu tive de deixar de lado é a produção cinematográfica, que é o que exige uma dedicação de muitas horas. Eu tenho um projeto como roteirista, mas que caminha a passos lentos.

 

Como você avalia a produção de filmes no Brasil? 

Hoje, tecnicamente, qualquer pessoa pode fazer um filme. É claro que a estreia no cinema é outra coisa. Esse mercado é muito fechado, mas a gente tem uma produção de 120 a 150 filmes no Brasil. Muitos deles de baixo orçamento. Mas ainda assim, do ponto de vista de escolher a profissão e ficar rico é muito difícil.

 

Alguma observação sobre essa área?

São Paulo só perde para Paris na diversidade da programação de cinema. Nenhuma cidade grande da Europa tem a mesma quantidade de cinemas dedicadas a filmes que não são de Hollywood como a gente tem em São Paulo. Não há filme importante no mundo que não estreie no Brasil.

Diferencial - Exposições feitas para o MIS são reformuladas por André (Foto: Letícia Godoy / Divulgação)

Diferencial – Exposições feitas para o MIS são reformuladas por André (Foto: Letícia Godoy / Divulgação)



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