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Santa Mena existe sim!


18/01/2015
3:31 PM
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Wellington Alves
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Atualizado em 19/01/2015 11:54 am

Padre da santa que não existe. Povo da santa que não existe. Este era o estigma que carregavam os padres e fiéis da Paróquia Santa Mena, no Picanço (Região Vila Galvão), desde a década de 1960. Isso porque, por quase 50 anos, sem livros da santa, nem outra igreja com o mesmo nome no Brasil e falta de dados pela internet, não havia informações sobre a francesa que viveu no século IV.

A situação começou a mudar com o padre José Miguel da Silva Filho, na década de 1990, que pediu para alguns paroquianos fazerem uma pesquisa minuciosa para descobrir informações de Santa Mena. Após alguns meses, constataram, através de documentos, que Mena foi uma virgem consagrada a Deus que viveu em Puzieux, na França. Ou seja, ela era real.

No Brasil, a paróquia do Picanço é a única que homenageia a santa. O padre Cleber Leandro, que era recém-ordenado sacerdote, assumiu a paróquia em 2010 e buscou divulgar a história de Mena e incentivar o povo a pedir intercessão a ela. A festa da padroeira ficou conhecida em Guarulhos, com direito a carreata, cantores famosos e dia oficial – 3 de outubro – com lei aprovada na Câmara Municipal e sancionada pelo prefeito de Guarulhos, Sebastião Almeida (PT).

A perspectiva é que a devoção cresça ainda mais com a relíquia da santa que chegou à paróquia na última segunda-feira, 12. A segunda vértebra de santa Mena foi doada pela Diocese de Saint Die, da França, em 6 de janeiro, para ser exposta permanentemente na igreja do Picanço. O padre planeja construir uma capela dentro da paróquia para visitação da relíquia e tentar aumentar a devoção do povo pela santa.

Relíquia foi roubada na Itália

O primeiro milagre da relíquia de santa Mena, já sob a responsabilidade da Diocese de Guarulhos, aconteceu em Roma, na Itália. A segunda vértebra da virgem foi roubada da mochila do padre Cleber Leandro, no metrô Ottaviano. Ele se deu conta que a mochila estava aberta, mas com os livros, carteira e documentos: o ladrão só levou a relíquia.

O bispo guarulhense dom Edmílson Amador Caetano, tentou acalmar o sacerdote, que começou a chorar. Eles iriam levar a relíquia para ser abençoada pelo papa Francisco. Os dois foram pedir informações aos funcionários do metrô, que disseram não ter encontrado a relíquia. “O ladrão deve ter pensado que era uma joia, mas quando viu que era um osso, deve ter jogado fora. Então passamos a vasculhar todas as lixeiras do metrô por meia hora”, contou dom Edmílson.

Quando já não tinham mais esperanças, dom Edmílson e padre Cleber foram surpreendidos por uma idosa que os abordou – sem saber falar italiano ou português – e apontou para a relíquia que carregava nas mãos. Ela disse que encontrou o material no chão do metrô. Os dois ficaram aliviados, levaram a relíquia para ser abençoada por Francisco e a trouxeram ao Brasil.

(Foto: Silvio César)

Família de Suplicy doou área

A escolha de Santa Mena como padroeira da igreja no Picanço foi uma decisão para agradar Filomena Matarazzo Suplicy, mãe do senador Eduardo Suplicy (PT). Ela era dona de fazenda na região e fez a doação do terreno para construção da igreja na década de 1960.

A família de Suplicy pediu para colocar o nome da igreja em homenagem a santa Filomena, mas, na ocasião, se descobriu que existia uma santa chamada Mena, que nunca fora homenageada no Brasil. Os filhos costumavam chamar Filomena carinhosamente por Mena. O senador costuma participar das festas da paróquia, tanto que compareceu à missa de acolhida da relíquia da santa, no dia 12.

Virgem cortejada por príncipes

Mena nasceu em Toulose, na França, em uma família rica, no século IV. Quando jovem, recebeu várias propostas de casamento de príncipes e homens ricos. Os pais dela queriam que ela se casasse, mas ela desejava se consagrar a Deus.

Angustiada, Mena procurou o bispo de Châlons, dom Memmie, para que a consagrasse a Deus. O religioso, receoso, falou que não faria isso sem a aprovação dos pais dela. Entretanto, um véu se elevou no ar na igreja. Dom Memmie entendeu que a vontade divina era que virgem Mena fosse consagrada, então a consagrou.

A tradição conta que Mena fez milagres e seus três irmãos foram mártires cristãos. Durante a revolução francesa, as relíquias de Mena foram divididas entre os católicos, com medo de que fossem destruídas pela burguesia local e devolvidas depois para a Diocese de Saint Die.


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