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Escombros e uma cozinha infernal


13/01/2015
11:23 AM
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Paulo Manso / Foto: Alexandre de Paulo
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Atualizado em 13/01/2015 11:23 am

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No caminho para o Forte Nacional, continuávamos impressionados com a “terra de ninguém” que é o trânsito de Porto Príncipe. Muito velhos, carros, motos e caminhões gigantes dançam freneticamente em ziguezague nas ruas também invadidas por pedestres.

A população parece acostumada com as viaturas, tanques e as armas empunhadas pelos homens de capacetes azuis. A poeira levantada pelos carros também não parece incomodar. Muitos acenavam para nós e nos chamavam de “bon bagay” (expressão em creoule que pode ser traduzida por “gente boa”). Crianças corriam atrás das viaturas.

A simpatia transborda, em meio a tanta miséria e sujeira. Alguns se sentiam incomodados com nossas câmeras. Reclamavam. Ato contínuo, nós baixávamos nossas “armas” e pedíamos desculpas. Era a senha para eles deixarem a queixa e acenarem com o característico sorriso fácil.

Os tap taps coloriam as ruas apinhados de gente. Augustinho explicou que a passagem custa entre 5 e 15 gourdes, dependendo da distância a ser percorrida e que os tap taps circulam apenas em linha reta. Ou seja, os veículos só podem transportar seus passageiros na mesma avenida. Gourde é a moeda local. Para efeito de comparação, US$ 1 equivale a 45 gourdes. Portanto, a passagem de tap tap custa, aproximadamente, de R$ 0,28 a R$ 0,85.

Pallemberg comentou sobre sua admiração diante da capacidade que os haitianos têm de aprender outros idiomas rapidamente. Augustinho fala fluentemente quatro línguas. Pallemberg conheceu um jovem que falava nada menos que 15 idiomas! “Colegas diziam que ele era adepto do vodu e que espíritos incorporavam no jovem e isso explicaria sua habilidade”, comentou, cético.

Do Campo Charlie até Forte Nacional, cenas chocantes de miséria. Famílias com baldes buscando uma água insalubre, acinzentada, para consumir ou, na melhor das hipóteses, cozinhar ou lavar algo.

Passamos pela área portuária de Porto Príncipe, onde se encontra o Mercado Venezuela, mais conhecido como “A Cozinha do Inferno”. Uma feira gigantesca, sem a menor condição de higiene, onde é comercializado de tudo. De frutas a cascas de laranja. De ervas a biscoitos de barro. Cheiro forte de alimentos estragados. Um mar de gente se amontoa e transita pelas vielas estreitas e escuras. O apelido é merecido.

Terremoto castigou muito Bel Air, comuna que montou valas comuns

Passamos em frente ao local que abrigava o Palácio Presidencial do Haiti. Tapumes tentam esconder a vergonha do que já foi orgulho graças ao seu simbolismo e beleza arquitetônica. O palácio foi duramente castigado pelo terremoto de 2010 e deixou de existir em 2012, quando foi totalmente demolido. Há controvérsias sobre sua reconstrução por parte de franceses e norte-americanos.

Subimos ladeiras íngremes na direção do forte. O bairro é Bel Air. Um dos mais difíceis de serem conquistados pelo Exército entre 2004 e 2007, início da Minustah. A geografia lembra muito a das favelas cariocas. Os militares instalavam postos fixos em cada região conquistada, conforme iam avançando na direção do topo do morro.  Esses postos eram chamados de Pontos Fortes e foram os embriões das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) no Rio de Janeiro.

É, também, a região mais atingida pelo abalo de 2010. Poucas edificações estão sendo refeitas. Andar por Bel Air deixa a impressão de que o terremoto é mais recente, tamanho o abandono e os escombros ainda visíveis. Sob a área em frente à entrada principal do Forte Nacional, jaz parte da tragédia. Augustinho afirmou que ali estão sepultados os corpos de 400 vítimas do terremoto. “Muita gente morreu ou ficou muito ferida. Não dava tempo de atender a todos. E os corpos daqui foram apodrecendo e precisávamos enterrá-los aqui mesmo, numa cova conjunta.”

Bel Air é um verdadeiro caldeirão

Bel Air não é o lugar mais pobre de Porto Príncipe. Mas é o que mais mostra feridas do terremoto de 2010 ainda não cicatrizadas. As edificações, em sua grande maioria, permanecem destruídas. Ícones da capital, como a Catedral de Notre Dame (réplica da original francesa) e o Palácio Presidencial, estão longe de serem reconstruídos.

É em frente à antiga sede do Poder Executivo, inclusive, que ocorrem as constantes manifestações da oposição ao presidente Michel Martelly. Lugar que transpira história!

 

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