12/01/2015 2:58 PM / Paulo Manso/ Fotos: Alexandre de Paulo / Atualizado em 12/01/2015 2:58 pm
O calor era intenso na tarde de domingo, 30 de novembro, no aeroporto internacional Toussaint Louverture, em Porto Príncipe. Eu e meu parceiro de “missão”, Alexandre de Paulo, desembarcamos na capital do Haiti para uma semana que se revelaria intensa. Logo de cara, uma aula de história. Chefe da Comunicação Social do Batalhão de Infantaria de Força de Paz (Brabat), o coronel Aléssio Silva nos municiou com todas as informações possíveis sobre o país caribenho.
O trajeto até a Base General Bacellar, no bairro Tabarre (dentro do chamado Campo Charlie), foi feito a bordo de uma picape apertada, por conta dos equipamentos de uso militar, mas extremamente confortável, tomando como referência os outros veículos que nos esperavam para as incursões pelo Haiti.
Acostumado à completa falta de regras do trânsito de Porto Príncipe, o tenente Pallemberg Aquino guiava enquanto eu tentava entender como nenhum acidente acontecia no meio de tamanha balbúrdia: buzinas, caminhões MAC (aqueles robustos americanos que aparentam pesar 100 toneladas), motociclistas sem capacete e com mais de um passageiro, nenhum semáforo, carros caindo aos pedaços (literalmente) e pedestres. Tudo ao mesmo tempo e com todos disputando o mesmo espaço. Ruas predominantemente sem asfalto e uma poeira permanente.
A visão era de uma aridez assustadora. Com exceção das fachadas dos precários comércios (donos de cores carregadas e letreiros enfeitados), Porto Príncipe é uma cidade cinza. Haitianos com quem conversamos disseram que moradores evitam rebocar as fachadas ou pintá-las para fugir da cobrança de impostos.
Transporte público singular e trânsito caótico
Outro contraste fica por conta dos “tap taps”. Perfeitos “paus de arara”, as caminhonetes com grandes gaiolas na caçamba são extremamente enfeitadas com pinturas que vão de craques do futebol brasileiro a menções religiosas, e dão raro colorido à cidade. Passam apinhados de gente, carregada como gado. “Passageiros” ficam nas quentes gaiolas ou pendurados do lado de fora, sem qualquer preocupação com a própria segurança.
Ao deixar o aeroporto, a impressão que tivemos foi a de entrarmos no set de algum documentário. Nada parecia real, mas cenas de um filme triste. Além da aridez e do trânsito caótico, as ruas de Porto Príncipe mostravam pessoas miseráveis, bombeando os escassos poços artesianos, que trazem água não potável (o lençol freático é todo contaminado por conta da falta total de saneamento básico). Casas destruídas pelo terremoto, muitas com telhados de zinco (o que transforma tais abrigos em verdadeiras saunas dado o intenso calor do Caribe). Pessoas fazendo necessidades fisiológicas nas ruas, sem a menor cerimônia.
Nosso abrigo na capital, o Campo Charlie abriga batalhões de vários países, entre eles, o maior da força de paz da ONU: o Brabat. O alojamento é um verdadeiro oásis no deserto. Nosso container, na Companhia de Engenharia do Exército, a Braengcoy, tinha ar condicionado, dois beliches, armário, TV, frigobar e uma mesinha de escritório. Sem luxo, mas com tudo do que precisávamos.