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Do orgulho ao caos


12/01/2015
3:00 PM
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Paulo Manso/ Fotos: Alexandre de Paulo
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Atualizado em 12/01/2015 3:00 pm

A primeira república negra do mundo. É disso que os haitianos mais se orgulham: de ter sido o primeiro país a se libertar da opressora colonização europeia pelos braços do povo, numa das mais legítimas revoluções que a história conheceu.

O fato, porém, antecedeu uma série de golpes, guerras civis e ditaduras – aliadas aos desastres naturais – que marcaram boa parte da vida republicana no Haiti, fazendo com que a histórica libertação reine praticamente solitária no coração e na mente dos haitianos.

A Ilha Hispaniola, a maior do Arquipélago das Antilhas, no Mar do Caribe, foi descoberta por Cristóvão Colombo em 1492. Em 1697, o terço oeste da ilha (27.750 km2, do tamanho de Alagoas, aproximadamente) foi cedido à França e virou o Haiti. Com a população nativa praticamente dizimada tanto por espanhóis quanto por franceses, o país se tornou a mais próspera colônia das Américas, às custas da degradação ambiental e da mão de obra escrava, vinda da África. Os escravos produziam muita cana-de-açúcar (principalmente), cacau e café. Em 1750, para se ter ideia, metade do Produto Nacional Bruto da França era oriundo do Haiti.

Em 1794, escravos se rebelaram e aboliram o regime, colocando Toussaint Loverture no comando do país. Loverture foi morto pelos franceses, mas a guerra da libertação duraria dez anos, período que marcou a chegada ao poder na França de Napoleão Bonaparte. Em 1804, liderados por Jacques Dessalines, os haitianos declararam independência, causando uma onda de temor nos colonizadores.

O vodu (prática religiosa de origem africana parecida com o candomblé brasileiro e que se espalhou pelo mundo principalmente nos locais para onde foram levados os escravos) levou boa parte da culpa. Dizimados pelos negros durante a revolução, brancos colonizadores espalharam a ideia de que os adeptos da religião tinham parte com o demônio. O preconceito existente ainda hoje nasceu naquela época.

Mais do que o preconceito religioso, o Haiti sofreu um longo embargo econômico estabelecido por escravagistas europeus e americanos e que durou 60 anos. O bloqueio só terminou com o pagamento de uma pomposa indenização pelo Haiti à França, o que destroçou a economia do país.

 

Frase atribuída a um revolucionário haitiano

 

 

Instabilidade política atrasa desenvolvimento 

A história política do Haiti é marcada por instabilidade quase que permanente. Da independência, em 1804, até hoje, apenas dois presidentes completaram seus mandatos. René Preval conseguiu a façanha por duas vezes. O outro mandatário nem merecia entrar nesta conta: o médico François Duvalier, o Papa Doc, se autonomeou presidente vitalício e morreu no cargo em 1971. Eleito em 1957 sob as bênçãos dos norte-americanos assustados com o comunismo, ele instaurou uma feroz ditadura bancado por sua polícia pessoal, os “tonton macoutes” (bicho-papão, em creoule). Foi substituído por seu filho Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, que manteve a linha dura do pai. Em 1986, acuado com o crescente levante popular, Baby Doc fugiu para a França. Cinco presidentes assumiram e deixaram o mais alto cargo do país em quatro anos, entre 1986 e 1990.

Eleito em 1990, o padre esquerdista Jean-Bertrand Aristide foi deposto um ano depois. O caos político-social no Haiti aumentou o número de imigrantes e fez os Estados Unidos se mexerem. A pressão pelo retorno de Aristide, porém, só surtiu efeito prático em 1994, quando ele voltou ao poder à força.

Primeiro-ministro de Aristide, René Preval se candidatou e venceu as eleições para o mandato de 1996 a 2001. Foi sucedido pelo próprio Aristide, em eleições contestadas. Os enfrentamentos internos foram se tornando cada vez mais insustentáveis, até que em 2004, Aristide foi obrigado a se exilar na África do Sul. A pressão norte-americana, desta vez, era na direção contrária. E em junho, a ONU instalou a Minustah.

Desde 1993, a ONU testou “mini missões” que não conseguiram conter as revoltas populares alimentadas pelos conflitos políticos constantes da era “pós-dinastia Doc”. A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti é formada por três frentes: civil, policial e militar (esta comandada pelo Brasil).

 

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