A sociedade brasileira vê Brasília de longe, em estado de letargia
04/08/2017
9:37 AM
/
Editorial
/
Atualizado em 04/08/2017 9:37 am
Parece que o brasileiro está anestesiado, e é exatamente isso que Brasília quer. Da capital federal vêm os sinais de que o melhor para o País é deixar lá o seu presidente, ainda que pego de calças curtas, do que expurgá-lo do seu posto. Querem fazer a Nação crer que não há nada de ilícito na conversa de má qualidade entre o chefe do Executivo e o grande empresário do ramo frigorífico e que o homem que corre apressadamente com uma mala é só um homem que corre com uma mala, e não mais um pau-mandado do Palácio do Jaburu.
Não há porque se indignar, sinalizam. Tudo está dentro da normalidade. Mas, ainda que esse esforço coletivo venha dando certo, é preciso não se deixar anestesiar pela falta de perspectiva. Sim, ainda é preciso se indignar, pois o que se vê à distância da Capital é diferente da visão de quem está lá, acolhido entre seus palácios e generosamente pago pelo dinheiro do contribuinte. Os escândalos se sucedem no Brasil e tudo parece um déjà vu, um mais do mesmo. Há o silêncio do trabalhador mais preocupado com a falta de emprego e com a própria falta de perspectiva econômica, que o atinge diretamente. Há o escamoteamento da classe média, que foi às ruas contra Dilma e que também rejeita Temer como presidente, mas que não tem estímulo para manifestar nas vias públicas por seu afastamento. Afinal isso seria se alinhar às vozes da esquerda.
Há uma apatia depressiva, quebrada por uma indignação aqui ou ali, no Facebook ou WhatsApp. Mas, isso não muda o jogo nem o fato de Temer continuar presidente, com a bênção, na prática, de numeroso séquito. O que se vê é a evidência de um povo que se sente traído por seus representantes e que se rendeu às duras circunstâncias impostas pela política nacional. Temer fica, com seu caráter probo e íntegro, como afirmaram alguns dos 264 que lhe foram favoráveis. Mas íntegro mesmo é o áudio em que o presidente, no mínimo, silencia diante dos fatos escusos que são narrados a ele por Joesley. Mas isso ainda é pouco! O que mais poderia tirar a sociedade brasileira dessa letargia? Que venha então Eduardo Cunha!