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O massacre de Pau d’Arco


01/06/2017
2:10 PM
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Antônio C. Frizzo
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Atualizado em 01/06/2017 2:10 pm

“Será que o cumprimento da lei não conhece outro caminho a não ser da destruição do adversário?” A inquietação é de dom Dominique You, bispo de Conceição do Araguaia, após o assassinato de dez posseiros na quarta-feira, 24 de maio. O crime aconteceu na Fazenda Santa Lúcia, no município de Pau d’Arco, no Estado do Pará.

Para a Comissão Pastoral da Terra, organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o conflito ocorrido em Pau d’Arco não foi o último, mas um triste fato que reflete o grave descaso do governo com a Reforma Agrária e a demarcação das terras pertencentes aos povos indígenas. No governo Temer, em pouco tempo, assistimos à retirada dos direitos conquistados e ao amplo favorecimento ao agronegócio. Tudo acontece para beneficiar grandes fazendeiros. “É lamentável ver à frente da Fundação Nacional do Índio (Funai) o pastor evangélico Antonio Fernandes Costa, ligado ao Partido Social Cristão (PSC), e o engenheiro agrônomo Leonardo Góis Silva, indicado pelo partido Solidariedade (SD) para a presidência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Ações que legitimam o retrocesso das poucas políticas públicas conquistadas desde a Constituição Federal de 1988”, alerta da entidade.

O descaso com a Reforma Agrária eleva o número de assassinatos. As lideranças são fichadas, perseguidas e mortas. No ano passado, 60 trabalhadores foram mortos em conflitos pela posse da terra. Em 2015, a cifra foi de 49 mortes. Este foi, até então, o maior número de vítimas de conflitos agrários desde 2003, quando foram contabilizados 71 assassinatos. Mulheres e jovens são mortos com marcas de crueldade, no desejo de amedrontar as lideranças. Poucos crimes vão a julgamento. Impunidade que só faz aumentar a violência. Os apelos do bispo dom Dominique de “não matar” podem ter chegado aos ouvidos divinos, mas estão longe de se tornarem políticas públicas, num País onde campeiam corrupção e impunidade.

Antônio C. Frizzo é padre e assessor das Pastorais Sociais, [email protected]


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