Ponto de Vista – Como exigir do outro o que você não é?
16/06/2017
9:23 AM
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Alfredo Henrique
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Atualizado em 16/06/2017 9:23 am
Ajudei um homem a empurrar o carro dele nesta semana. O motor do veículo “morreu” e não ligava de jeito nenhum. Mas antes de dar uma mão ao motorista, testemunhei a falta de respeito e de empatia de uma pessoa para com ele.
O veículo “empacou” em um cruzamento. Fiquei observando o motorista tentando ligar insistentemente, em vão, o motor do veículo. Em instantes, surgiu atrás do automóvel uma enorme caminhonete 4×4.
Mesmo com o pisca-alerta do veículo pifado acionado, o condutor da caminhonete começou um “buzinaço” solo, manobrou o carrão – tirando uma fina do outro veículo – abriu a janela, xingou o outro homem e saiu acelerando.
Percebi depois de um tempo que o motor não ia voltar a funcionar milagrosamente. Por isso, chamei uns colegas que estavam no mesmo local que eu (para variar, um bar) e fomos até o veículo parado. Um deles se posicionou no meio da outra rua para segurar o trânsito. Enquanto isso, eu e outro amigo empurramos o carro do desconhecido – que o estacionou em um ponto no qual ninguém poderia constrangê-lo com buzinadas. Minutos depois, ele conseguiu ligar o veículo e foi embora.
Depois da cena toda, fiquei pensando que teria sido mais fácil o homem da caminhonete simplesmente desviar do carro pifado e seguir seu caminho – algo bem diferente do que ele fez.
Da mesma forma que o “buzinador”, muita gente gasta energia complicando situações que poderiam, ao contrário, ser resolvidas de forma simples, rápida e respeitosa.
Para que exijamos algo de alguém, é fundamental que saibamos e pratiquemos aquilo que nos é cobrado. É paradoxal. Talvez por isso o fato tenha me remetido a Penny Rimbaud, integrante do grupo anarcopunk inglês Crass, que escreveu: “Se você nunca viveu em paz como pode sensivelmente exigir isso de outra pessoa?
Isso faz com que eu creia que a única coisa que podemos mudar, efetivamente, a princípio, somos nós mesmos. Todos precisam perceber e praticar isso, para que um mundo melhor seja possível.
Alfredo Henrique
Chefe de Reportagem da Folha Metropolitana
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