Ponto de Vista – Aprendendo a protestar
18/03/2015
12:06 PM
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Luna Alkalay
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Atualizado em 18/03/2015 12:08 pm
Como disse na semana passada acredito que segurança é gente na rua. As ruas das cidades são um território comum a todos, lugar de encontro, de deslocamento, de estabelecer comércio, de comprar e vender. Na rua tem camelô, sorveteiro, banca de jornal. Na rua tinha cinema, tinha banco de madeira ou de cimento. Existe uma coisa mágica de sair à rua…
Isso tudo pra dizer que acho o máximo o povo sair pra se expressar na rua. As manifestações da semana passada deixaram as cidades coloridas, cheias de vitalidade, de esperança. Quem não foi, perdeu. Sei que muita gente teve receio de confusão, de black blocks, de tiro, fumaça, polícia. É justo se preocupar porque das outras vezes foi assim. Mas as pessoas amadurecem e aprendem a protestar pacificamente. Protestar é uma sabedoria.
Diferente de discutir, brigar, protestar é fazer valer a indignação de um grupo. Não concordamos em tudo, mas concordamos em algum aspecto. E isso basta para dar os primeiros passos, para soltar os primeiros berros entalados na garganta, para repetir os primeiros slogans.
Com o tempo aprenderemos a nos manifestar por alguma coisa específica, como a reforma política, a reforma fiscal. As pessoas que saíram às ruas ainda não tinham uma proposta concreta. Saíram para ser contra, para tirar a presidente. Nós brasileiros temos a mania de trocar as coisas, as pessoas (técnicos no futebol, por exemplo). Se está ruim, vamos consertar. Se não presta, vamos melhorar. Nada garante que a troca vai resolver. Existem mecanismos à nossa disposição enquanto cidadãos que nos permitem aprimorar os governos, o Congresso, as prefeituras. A observação do que nosso vereador, nosso deputado estão fazendo. Não ter preguiça de levar até o fim uma pequena questão nos Procons da vida.
As manifestações nos devolvem o sentido da cidadania que pode e deve ser praticada e defendida sempre. Informação, indignação, reclamação. Essas são nossas ferramentas para consertar o que não funciona bem.
Luna Alkalay é filósofa, de Milão, naturalizada brasileira e paulistana de alma.
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