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Ponto de Vista – O que pode e o que não pode


16/11/2016
3:11 PM
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Luna Alkalay
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Atualizado em 16/11/2016 3:11 pm

Hoje cedo, apesar de todos os conselhos médicos, fui à padaria e comi dois pães com manteiga e café com leite. Com gastrite, terminei de saborear aquela maravilha já me preparando pra azia e má digestão. Há muito tempo que não como farinha branca, só integral; pãozinho, nem pensar. Mas hoje não resisti, me deu aquela compulsão de quando a gente faz regime por meses e põe quase tudo a perder por alguns pedaços do bolo ou de pizza. Afinal, o que é isso?

Contra tudo e contra todos jogamos tudo pro alto e enchemos a cara numa festa, comemos dois pratos de feijoada num sábado, sem ouvir nada nem ninguém, sem dar importância aos sacrifícios e castigos que virão com a ressaca da bebida ou da comida.

Acho que o ser humano está programado pra estocar comida, gordura por uma memória dos tempos pré-históricos nos quais tínhamos que sair e caçar algum animal pra matar a fome. Comer, para quase todos nós, é um prazer imenso. Ainda mais pra quem vive em São Paulo, com milhares de padarias, lanchonetes, restaurantes, food trucks. Fica até meio esquisito resistir e dizer sempre não para essas delícias.

Então o que fazer pra não sofrer nem com as queimações, as ressacas e a obesidade sem se privar de comer o que gosta pelo menos de vez em quando? Pois é, a resposta está no de vez em quando. Repetida diariamente a feijoada perde a graça. Aliás, qualquer coisa repetida fica chata. A gente tem que ser pego de surpresa pela vontade de tomar uma cerveja, de encher a cara de sorvete com todas as coberturas. Acho que esse fator surpresa divertido, quase uma transgressão infantil na qual a gente sabe que não pode, que vai levar bronca, mas assim mesmo vale a pena. Acredito que o charme está nessa relação da delícia com o proibido. Você já reparou que desde que liberamos muitas coisas que eram proibidíssimas, passamos a proibir outras que eram superestimuladas? A comida é uma que foi nessa troca: hoje a liberdade sexual é aceita, mas a gordurinha da barriga é condenada. Vai entender. Pelo sim, pelo não,  o café com leite e o pão com manteiga não provocaram arrependimento.

Luna Alkalay

Filósofa, de Milão, naturalizada brasileira e paulista de alma [email protected]


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