Ponto de Vista – Desatenção com as bacias hidrográficas
12/03/2015
11:55 AM
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Édison Carlos
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Atualizado em 12/03/2015 11:55 am
Uma bacia hidrográfica ou bacia de drenagem de um curso de água é o conjunto de terras que fazem a drenagem da água das precipitações para esse curso e rios menores que desaguam em maiores (afluentes). A história do homem sempre esteve muito ligada às bacias hidrográficas: as dos rios Nilo, Tigre e Eufrates foram o berço da civilização egípcia e dos mesopotâmicos. O Brasil, no entanto, não planejou o uso do território considerando o fluxo, a reservação, a preservação e os usos múltiplos de suas águas. Pior, embora a natureza sabiamente já tenha feito o papel de subdividir o território de forma a garantir a água, as cidades intervieram nas bacias e desequilibraram essa ordem.
Na macrometrópole paulistana as autoridades encararam os rios como problema, então eles foram transfigurados, impermeabilizados e margeados por ruas e estradas. Esqueceram da infiltração das águas para a recarga dos rios subterrâneos, para a manutenção dos riachos e dos rios menores que alimentam os maiores e muitos reservatórios naturais.
A expansão das áreas urbanas e mesmo as rurais não considerou o desequilíbrio causado pelo desmatamento das margens dos rios e pela devastação das matas, que sempre foram responsáveis por reter as águas permitindo seus vários usos. A grave falta de investimentos em coleta e tratamento fizeram dos rios diluidores de esgoto. As áreas metropolitanas de São Paulo e Rio não tratam nem metade desses resíduos e não podem usar águas, sem contar a necessidade urgente de reduzir perdas nas redes de distribuição.
Os comitês de bacia hidrográfica, que sempre foram importantes, estão esvaziados e sem perspectivas. Foram politizados e perderam sua característica técnica. É essencial que voltem a ser o centro do planejamento dos recursos hídricos. Não cabe cada município lutar por solução única, como se seus vizinhos não fizessem parte dos mesmos problemas e soluções. Assim como prevê a Política Nacional de Recursos Hídricos de 1997, que considera a bacia hidrográfica como unidade de planejamento de recursos hídricos, precisamos tê-la como ponto central.
Édison Carlos é presidente-executivo do Instituto Trata Brasil.